domingo, 29 de julho de 2012

Diz

Diz aqui
A que veio
Diz aperta-me

Diz a pegue
Me deserte
Diz afia-me

Sua voz
Me diz a fina
Diz concerta-me

E diz corre
Sóbrio mundo
Que diz cobre em mim

Diz a mim
Aqui perto
E diz venda-me

Diz aparecer
À noite
Desalinha-me

Diz a linha
Sua e minha
Diz limite a mim

Diz pra mim
E diz parado
Vamos diz parar

De par
Em paz

domingo, 22 de julho de 2012

O traste

Até o caroço! Deve ser esse o pensamento do traste. Ele a enxerga como fruta no ponto e não pensa em chupá-la para lhe dar prazer. Ele quer todo o sumo pra se nutrir e não sabe plantar a semente.

Não interessa se haverá um amanhã ou frutos de um amor. Quando chegar ao caroço então acabou. Ele quer o grosso caldo, a macia polpa, o doce cheiro... Morde até a casca. Mas pra ele o caroço não tem proveito. Nas mãos do traste a semente é o fim!

Não sei como ela se submeteu tão burramente. Foi penoso vê-la tão desonrada. Esboço de tão linda mulher, mal se fez e já está desfeita. Seus limites estavam ultrapassados, sua ira fedia em seus poros. Mas o medo a condicionava a viver mal.

Dia desses ela o olhou nos olhos e o fez pequeno, bem como ele era. Disse tudo o que lhe cabia. Fez o que queria... Tudo ficou avesso.
O silêncio, mais afiado que a língua, veio na ponta da navalha.
Ele tentou lhe tirar a vida mas as mãos dela foram mais ágeis e mais precisas.

Um fio de coragem, lágrimas pelo chão, álcool, fósforo, paciência.

Não houve nada em seu coração, corpo e mente, senão desespero. Do desespero ficou a exaustão.
Ela repousou sobre o chão frio e seu corpo macio achou descanso. Ela desabou feito edifício velho. Estava podre e desgastada.

Subitamente uma força lhe toma. Tal desfecho foi a realização (revelação) de um desejo oculto. O fogaréu se acendia em seus olhos e lhe tocava como em uma orgia. O fogo era sua paz e seu prazer.

Antes que o dia amanhecesse, ela se levantou: Perfume, vestido de seda, cabelo trançado, brincos, olhos profundos.
A noite lhe convidava para vinho e solidão. As lágrimas se negavam a cair por ele.
Em seu rosto um sorriso veio levemente, estranhamente, lindamente.

Ao fim de cada dia, o peso de sua liberdade escorria pelo seu corpo feito água quente e espuma. A culpa se dissipava com o vapor. Ela se banhava em redenção, e tudo nela se resolvia em incêndio. Se acabava em fumaça.

Nua e crua Corinne

Sem firula, sem virtuosismo, sem performance, sem superprodução. O que Corinne tem a oferecer é orgânico.

Sua arte tem tanta verdade que constrange. Corinne canta com tudo o que tem e só ela tem. Por isso envolve e aprisiona. Algo como um perfume fechado, quente, suave que some no ar, mas marca a memória.

Corinne compõe sobre o assunto que melhor conhece: Sua vida, seus amores, seus temores. Fala sobre o amor da mãe, a relação com o marido (que faleceu há dois anos) fala de tardes regadas a azeitonas e champanhe, assistindo musicais antigos em preto e branco na companhia de seu marido nu.

Apesar de tocar guitarra, Corinne costumava fazer letra e melodia enquanto o marido harmonizava as canções. Ela, o marido e a música formavam um triângulo amoroso em perfeita harmonia.

Corinne não usa a beleza para seduzir o publico, e nem precisa: pouca maquiagem, corpo bem coberto, o que está à mostra é sua alma.
Sua extensão vocal é pequena, tem as mãos desajeitadas e não sabe se portar no palco.

Dentro de um limite comum a muitas mulheres que cantam razoavelmente bem, ela faz maravilhas: melodias muito originais, timbre peculiar, surpresas a cada nova frase que canta.

É romântica, no palco sua voz é instrumento de uma entrega, feita com doçura e plenamente. Tudo em sua arte é leve. Até a morte é leve. Ela canta a morte de seu amor dizendo: “Eu faria tudo de novo”. Em sua arte não há espaço para as misérias do coração.

Corinne canta blues, jazz, rock, faz cover de Led Zeppelin. E nada parece ser o bom e velho, o conhecido, o esperado. Corinne consegue se apropriar de qualquer coisa, de uma voz pequena, de uma alma grande, de estilos batidos, de músicas alheias e assim, despretensiosamente, se apropria dos corações que a ouvem.

Assista Corinne: 




Domingo em paredes sem quinas

As paredes do quarto vagarosamente se transformam em horizonte: Brancas, sem quinas, sem fim... Numa manhã recém-nascida sob o olhar inebriado de quem acorda, horizonte branco, tela onde se colorem (e se desbotam) pensamentos e devaneios.
Às vezes é o teto que se torna céu, e dança, e pesa, e cai sobre a cabeça. A paixão cria um universo onde tudo é, ou pertence, ou se parece com ele. Ele é o alvo, o sonho, ele chega até a ser ela. Ela em seu melhor momento.

O quarto é universo dele e dela, os olhos estão entregues à mente, a realidade é detalhe. Ela tem restos de maquiagem no rosto, as pernas doloridas, o sono genérico, leve ressaca, cheiro de ontem.
Coração apertado por todos os sentimentos sobre todas as coisas, querendo sua plenitude ao mesmo tempo. Coração trabalhando em regime escravo.
Ela não fuma. Mas às vezes precisa de um cigarro. O chocolate lhe traz alívio e prazer, mas cadê? O quarto ainda está mágico demais pra ser abandonado. Ela busca opções.

De volta à tela, o teto e as paredes sem quina. Ela precisa imaginar algo, alguém. Mas na tela só a imagem dele se colore. É irritante não poder controlar a ilusão. A mente dela é demasiadamente sincera e só pinta aquilo que (realmente, profundamente, independentemente) quer. Ela pousa as mãos sobre os seios, e os aperta como quem quer dizer: "sossegue coração!" mas seu coração e seus seios sugerem: "lembre-se do toque dele, bem aqui, bem assim".

Suspiro profundo, um longo espreguiçar, contagem regressiva, olhos fechados. Ela se levanta. Uma orquestra grudada em seus ouvidos, toca uma linda sinfonia com violinos que estranhamente melodizam o nome dele, o alvo. Ela ignora, busca a realidade, a cruel realidade do domingo que ela não vai viver. Seus olhos hoje estão em viagem. A alma não tem norte. A paixão a imobilizou. É tortura, é delícia, é amor.

Por causa dele, hoje ela só vai pensar. Por falta dele, vai penar.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Cantora triste

Ela traz o sonho nos olhos
Esconde os olhos na fronha
Mal dorme de tão tristonha
Chora de sono e acorda

Em seus acordes conta
O que pranteia em seu canto
Declama poemas prontos
Apronta e espalha encantos

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Te amo


Não te amo além
Nem apesar de tudo

Não te amo porque aquilo
Nem pra quê isso
Não te amo só assim
Nem por mim


Não te condiciono
Nem proponho


Te amo porque sim
Te amo por amor


Te amo
E fim!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dança dos signos


Não me dê o céu de sua boca
inferno do meu corpo
Não me dê seu toque
ladrão de minha sanidade
Não alimente o fogo de meu signo
meu sangue é lava, incandescente
indecente, inconsequente, quente
Não se meta em minhas fendas
meus decotes, meus dotes
minha carne tem recortes
vermelhos, cor forte
e se inflamam como a morte
à menor brisa de sua boca
Não desfaça minha roupa
Não toque em minha armadura
Não faça de Áries um fraco
Nem leve Atenas à loucura
Não diga que me ama
que amor não se diz
Amor se  faz
feliz